quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Análise textual da poesia de Kideniro Teixera

Exaltação

Teu corpo tem o viço fecundante
da terra molhada;
e, ao estreitá-lo, creio
que a semente que semeei,
breve germinará nesse divino seio.

O teu corpo tem o cheiro promissor
das primeiras chuvas;
por isso, como a terra virgem,
dar-me-ás, cheia de Graça,
a abençoada doçura de seu fruto.

O teu corpo contém curvas ondulantes,
de pétalas de beijos;
E os teus lábios entreabertos, cantarão
a doce melodia desse poema,
que apenas eu soube escrever!


Kideniro Teixeira

Exaltação, texto do senhor Kideniro Teixeira, é um verdadeiro manifesto da poesia neo-romântica (em termos restritos, poderíamos falar de um estilo neo-romântico quiteriense), se o monsenhor Ximenes dedicou sua poesia as “marias fumaças”, e  Terezinha Parente dedicou ao próprio amar (no sentido mais humano!), Kideniro Teixeira expressa um amor numa visão erótica (dizem as “más” línguas que eram frutos das suas experiências pessoais!), perceba que o poeta inicia as estrofes com inspiradas e apuradas descrições das formas e belezas femininas “Teu corpo tem o viço fecundante da terra molhada”, “O teu corpo tem o cheiro promissor das primeiras chuvas” e “O teu corpo contém curvas ondulantes”, um leitor mais atento, percebe a intertextualidade e/ou mesmo semelhanças na idealização da mulher com o primeiro terceto do “Soneto”, do poeta ultra-romântico Álvares de Azevedo (Era mais bela! o seio palpitando.../ Negros olhos as pálpebras abrindo.../ Formas nuas no leito resvalando... de pétalas de beijos). Os três últimos versos da primeira estrofe apresenta uma ambigüidade, atente para a forma pronominal –lo ligado ao verbo estreitar, não sabe-se ao certo se faz referência ao corpo ou ao viço! Considerando (GT) que os pronomes retomam substantivos, -lo se refere ao corpo, e “divino seio” (muito usado por Álvares de Azevedo) é uma metonímia. Quanto a segunda estrofe, o poeta requer um fruto que só nasce com a premissa das chuvas, perceba a locução abençoadas doçura, reflete a importância que o poeta dar a idealização, impregnada de adjetivações; veja ainda a consoante maiúscula em Graça, recurso utilizado para distinguir o amor íntimo do fraterno, nos remete, por exemplo a Camões (E o vivo puro Amor de que sou feito,/ Como a matéria simples busca a forma.), a diferença, talvez por inquietação, a idéia do amor com inicial maiúscula foi invertido por Kideniro. Os últimos versos do poema, o poeta faz um fechamento com traços mais subjetivos, apesar do verbo cantarão (futuro do presente do modo indicativo), expressar certeza indubitável, a poetisa portuguesa Florbela Espanca, que também cantou o amor, revela esses mesmos traços em “Vaidade” (Sonho que sou a Poetisa eleita,/ Aquela que diz tudo e tudo sabe), perceba o uso da função metalingüística tanto em Kideniro, quanto em Florbela Espanca, e até mesmo em Álvares de Azevedo (presente em todos os contos de Noite na Taverna). Kideniro Teixeira não vive mais no plano físico, resquício de sua obra se encontra em alguns jornais e em posse de algumas pessoas, a força introspectiva e às vezes superficial demais da sua visão feminina se perdeu, na imortal frase estampada no muro de sua residência no bairro Pereiros: “PROIBIDO COLOCAR FOTOS, PROPAGANDAS, PLANFETOS DE PATIFES”!

Nenhum comentário:

Postar um comentário